sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Reflexões sobre o tema do DNJ: Juventude e Protagonismo Feminino


Mulheres do início do século 21

A primeira ideia, quando pensamos em mulheres neste início de século, é a da mulher urbana, trabalhadora, realizada e feliz porque se viu livre do domínio machista que a condenava à inferioridade. Não podemos ser ingênuas acreditando existir um tipo “ideal” de mulher, como se ele representasse todas as mulheres, de idades variadas, com os diversos problemas que enfrentam e com todos os desafios que as fazem lutar.

Há mulheres que se fizeram autônomas por terem renda própria e por se desvencilharem de tabus, armadilhas e preconceitos. São as que galgaram altos cargos, assumindo as mesmas profissões antes reservadas aos homens. Por isso são as que melhor representam, ideologicamente, a emancipação feminina. Mas essas são algumas mulheres urbanas e não podemos nos esquecer de outras tantas mulheres. Essas que ainda vivem sob o jugo dos pais, dos maridos (basta ver as situações de violência doméstica), ou dos patrões nessa sociedade com resquícios patriarcais e da exploração capitalista desmedida.

Penso nas mulheres que, mesmo tendo conquistado a emancipação frente ao machismo, estão sobrecarregadas com o ônus da própria emancipação, como a dupla ou até a tripla jornada de trabalho, com o sofrimento das doenças antes quase exclusivas do mundo masculino, com o fardo do provimento da prole, pelo simples fato de poderem agora romper com as relações afetivas falidas.

Autonomia, a que custo?

No final do século 20, um número expressivo de mulheres entrou no mercado de trabalho, chegando mesmo a ser em número maior do que os homens em determinados setores. A economia capitalista, baseada no estímulo e na criação de novas necessidades, contribuiu para o crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho, vindo a ser uma fonte suplementar de rendimentos, necessária para a realização dos sonhos da sociedade de consumo. A ideologia hegemônica forjou o reconhecimento social do trabalho feminino atrelado a ideias como o direito a uma vida autônoma e à independência econômica.

Os próprios homens tiveram de reconhecer a legitimidade do trabalho assalariado feminino, a despeito de muitas vezes ser cristalino que nem mesmo sob o aspecto econômico é compensatório, para as famílias e para a sociedade, o sacrifício da venda de toda a força de trabalho de cada família no mercado. Quando ambos os cônjuges estão fora do lar, e por muitas horas de trabalho nas empresas, há irremediavelmente uma perda na qualidade de vida dos pais e dos filhos, que acabam sendo expostos à vulnerabilidade de uma sociedade que não tem mais tempo para os laços comunitários, momentos de espiritualidade, de intimidade familiar e de luta social. Os maiores problemas estão nos territórios de baixa renda, por não disporem de creches, escolas e serviços necessários para compensar a falta da atenção materna e paterna no lar.

Reverência às mulheres

Por que muitas mulheres ainda estão longe das conquistas da emancipação feminina? Vivemos em uma sociedade que tem como fundamento a competição. Assim, a primeira preocupação não é um lugar para cada um(a) na sociedade. O discurso hegemônico faz acreditar que todos podem se dar bem, desde que lutem isoladamente por isso. Cada um tenta de todas as formas conquistar um lugar melhor, tornando-se um ser que consome mais. Desse modo, o nosso agir em sociedade, mesmo aparentemente emancipado, tem contribuído para o aumento das intervenções irresponsáveis no meio ambiente e para a destruição da cultura das comunidades tradicionais.

Apesar de não terem as mulheres conseguido efetivamente se emancipar neste sistema mundo, são elas as protagonistas de uma nova sociedade. No mundo inteiro, nos chamados movimentos antissistêmicos, são as mulheres as que constroem na luta os caminhos contra toda forma de opressão. Para essas mulheres faço reverência, reconhecendo que sem elas correríamos o risco de perder a esperança de vida melhor para todas as nossas crianças.

Por tudo isso, parafraseando Drummond, digo que olho as minhas companheiras mulheres e vejo que estão muito taciturnas, mas nutrem grandes esperanças. Também como Drummond, não serei a cantora de uma mulher, de uma história. Proponho na diversidade a construção de uma sociedade em que vivam mulheres, de todas as idades, de todos os lugares, de todas as culturas, fazendo um outro mundo possível, onde o poder seja somente o do cuidado, na e da perspectiva feminina. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas!

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