Hoje, a imprensa da
Espanha, da Itália e de outros países comentam, admirada, a Jornada Mundial da
Juventude. Fala de um Papa de 84 anos que atraiu dois milhões de jovens; fala
da vitória da Igreja sobre o governo esquerdista e anticlerical da Espanha de
Zapatero, fala do Papa que sabe
falar aos jovens, fala da força da Igreja que renasce na Espanha…
Meu
querido Leitor, é a mesmíssima imprensa que já afirmou repetidamente que
Ratzinger não tem carisma algum, que a Igreja já não tem credibilidade nenhuma,
que o escândalo dos padres pedófilos colocou por terra o período triunfalista
de João Paulo II, que a Igreja entrou numa decadência sem fim e sem cura… A
mesma imprensa que tinha certeza de que, sem João Paulo II, os jovens não mais
se reuniriam em tamanha multidão…
Que
lições devemos tirar de tudo isto? Aquelas que tenho recordado constantemente
neste Blog: os cristãos não devem nunca interpretar as coisas de Deus a partir
dos critérios do mundo, particularmente aqueles da imprensa! Nossa visão tem
que ser a partir do Alto, a partir da cruz e da
ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Pense
um pouco:
(1) Os jovens não foram a Madri por causa de Bento XVI – como no passado não
foram por causa de João Paulo II: os jovens foram por causa de Cristo, foram
para encontrar Jesus! Um Papa nunca é, nunca pode ser uma atração: não dança,
não canta, não requebra, não é sarado, não faz pirueta e não aparece sob
efeitos especiais! E se fizer isso, não é o Papa, é a Xuxa! Os jovens foram,
vão e irão sempre a esses encontros pela sede que consome seus corações: por
causa de Cristo, vida da nossa vida e saciedade da nossa esperança!
(2)
Um Papa não tem que ser “carismático” no sentido mundano. Todo Papa é
carismático, porque, uma vez eleito, recebeu o carisma, isto é a cháris, a
graça própria do ministério petrino. Pode ser o comunicativo João Paulo II, o
simpático João Paulo I, o bonachão João XXIII, o hierático e angelical Pio XII,
o feioso Bento XV, o valente Pio XI, o melancólico Paulo VI ou o tímido Bento
XVI. O verdadeiro católico não ama um Papa, não ama esse Papa, ama o Papa,
escuta o Papa, obedece ao Papa – exatamente porque é o Papa, seja ele quem for!
Para o católico todo Papa é Pedro, e basta!
(3)
Essa multidão reunida não é, não deve ser e não pode ser uma prova de força da
Igreja! Nossa força está unicamente na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo – é a
mesma força da Semana Santa do ano passado, quando a imprensa acusava a Santa
Igreja de Cristo de ser uma rede internacional de pedófilos e se diziam
misérias contra o Santo Padre! Nossa força é Cristo, nossa vida é Cristo, nossa
certeza é Cristo, nossa alegria e esperança é Cristo!
(4)
É verdade que Zapatero, adversário ferrenho do cristianismo, está passando –
como passaram outros e passarão tantos outros. Ficará a Igreja, a Mãe católica
amabilíssima, porque Cristo assim o quis e assim o prometeu! Mas, não devemos
pensar aqueles jovens como um triunfo da Igreja sobre ninguém. O único triunfo
que devemos buscar é o triunfo sobre o pecado nosso e do mundo inteiro! Se
Zapatero é um inimigo externo da Igreja, também nós a prejudicamos com nossos
pecados e egoísmos, com nossa tibieza e falta de amor… Os piores inimigos da
Igreja estão dentro dela!
(5) Quanto ao renascimento da Igreja
na Espanha ou em qualquer parte do mundo, ele não pode ser medido por números,
por multidões ou eventos… Somente o Senhor da Igreja conhece o número dos seus,
somente ele sabe do vigor e da fraqueza de sua Santa Esposa, nossa Mãe
católica! No entanto, se aquela multidão de jovens na casa dos vinte anos
estava lá, significa que nas paróquias, nos grupos, nos movimentos, nas novas
comunidades, nas congregações há uma Igreja viva, crente, orante, disposta a
testemunhar o Senhor! Lembra do fermento na massa, do grão de mostarda, do
tesouro escondido? Pois é, Jesus não erra nunca; Jesus sabe o que diz e
sustenta o que fala!
(6)
Quanto aos elogios a Bento XVI, que sabe falar aos jovens, ele fala de Cristo
com simplicidade, clareza e a convicção de quem experimentou o Senhor ao longo
de toda a vida. Isto basta! Mais impressionante que aquela multidão escutando o
Papa de 84 anos, é vê-la, junto com o ancião pontífice, silenciosa, contida,
piedosamente reverente, ante um pedacinho de pão que esses católicos bobos
afirmam ser o próprio Jesus imolado e ressuscitado, realmente presente neste
mundo! Basta ver isso para perceber a força da fé, a atuação da graça e a
esperança do mundo.
(7)
Para terminar, repito, mais uma vez: se fossem somente vinte jovens a comparecer
a Madri, ainda assim Cristo estaria ali, vivo, atuante, potente, matando a sede
de todo aquele que dele se aproxime.
Lembre
dessas coisas, meu Leitor, quando daqui a pouco, por algum motivo, nalguma
dificuldade, a imprensa novamente decretar que a Igreja está no fim, que o
cristianismo passou, que a religião é coisa do passado… Então: firmes na fé,
com os olhos fixos em Cristo!
por
D. Henrique Soares, bispo auxiliar de Aracaju, SE
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